10 truques que as marcas usam para manipular os testes de carros e que os jornalistas já sabemos (e você deveria saber)

Não se deixe enganar apenas pelas fotos bonitas, pode ser uma ilusão: ao testar um carro você encontra surpresas que ninguém conta. Se você quer saber quais práticas embelezam a percepção e como afetam sua compra, continue lendo.

10 truques que as marcas usam para manipular os testes de carros e que os jornalistas já sabemos (e você deveria saber)
O trabalho de um jornalista do motor também implica fazer tarefas de detetive.

14 min de leitura

Publicado: 12/09/2025 08:00

Depois de tantos anos me dedicando ao jornalismo automotivo, assisti a uma imensa quantidade de apresentações e testes de carros. Isso me serviu para conhecer os truques que as marcas de carros usam para que seus modelos pareçam melhores nas mãos da imprensa do que na vida real do comprador. E não, não falo apenas de maquiagem: há pequenas armadilhas, e outras nem tão pequenas, que influenciam em nossos testes.

Muitas dessas coisas têm uma explicação lógica, seja por questões simples de marketing, logística ou segurança. Outras, simplesmente me fazem sentir cético sobre o que estou testando e a percepção que recebo. A maioria delas eu vi se repetir uma e outra vez, então aqui vão as 10 mais comuns contadas a partir da experiência, aquelas que você com certeza suspeitou e algumas que talvez você não imaginasse.

1. O comodismo do "pré-série"

É a desculpa mais clássica. Quando algo falha, a marca te diz que "é uma unidade pré-série". O que isso quer dizer? Uma unidade pré-série é uma versão inicial fabricada antes que a linha final de produção esteja totalmente definida; são usadas para testes internos, homologações e apresentações. Sim, existem, e eu as dirigi principalmente quando a apresentação à imprensa é antes do lançamento comercial do modelo.

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Qualquer detalhe de fabricação que não nos convença costuma ser justificado dizendo que é uma unidade de pré-série, embora nem sempre seja assim. - Freepik

Mas claro, se durante o teste você detecta que há uma vibração excessiva da alavanca de câmbio ou percebe os rangidos de um acabamento mal ajustado, logo te soltam que é pré-série como sinônimo de "talvez consertem". A desculpa funciona porque é plausível, mas a realidade é que na maioria dos casos o defeito que você detectou naquele carro de testes, embora realmente seja pré-série, não é corrigido no modelo de produção.

2. Esses sapatos não são seus

Outro truque clássico é que o carro de imprensa vem calçado com pneus de maior qualidade com a intenção de melhorar aderência, conforto e consumo. É legítimo que uma marca queira mostrar o produto sob sua melhor luz, mas seria honesto indicar isso claramente. A experiência para o jornalista é melhor do que a que terá o usuário final.

Aí está o problema. O comprador descobre que a versão que encontrará na concessionária vem com rodas de gama inferior e nem mesmo pode montar outros pneus melhores de forma opcional. Um pneu mais econômico e com piores desempenhos afeta as sensações de condução, eu te garanto.

Em algumas rodas de imprensa ou eventos internacionais, nem sempre fica claro quais características ou configurações podem ser particulares no mercado espanhol.

3. Configurações e opções que não chegarão à Espanha

Eu testei inúmeros carros configurados com pacotes ou combinações que na Espanha nunca estiveram disponíveis. Isso costuma acontecer porque as primeiras unidades são preparadas quando as gamas nacionais ainda não estão fechadas e, muitas vezes, a marca prioriza uma configuração "global".

Em apresentações internacionais, tive à minha disposição unidades com estofamentos, motores, combinações de cores ou equipamentos que às vezes não são vendidos na Espanha. É compreensível, mas também cria uma expectativa equivocada. Além disso, em alguns eventos de imprensa, não se deixa claro quais características não estarão disponíveis ou serão diferentes no mercado espanhol.

4. Equipados até o topo… e um pouco mais

Colocar extras em um carro de teste é normal e, além disso, vem muito bem porque quanto mais equipamento tiver, mais coisas poderei testar e contar. Mas às vezes as unidades que dirigimos têm elementos da lista de acessórios, ou seja, não são extras de fábrica.

Os carros de imprensa disponíveis costumam ser os topos de gama ou edições especiais porque são mais atraentes.

Isso ofusca a percepção porque podemos pensar que aquele carro tem aquele equipamento quando na verdade é um acessório montado posteriormente na concessionária que é comprado à parte e que tem custos adicionais. Pior ainda é quando a marca não especifica, algo que costuma acontecer.

5. Rotas feitas sob medida

Em apresentações de imprensa, as rotas são projetadas para o teste dinâmico do carro. Às vezes, com a intenção de ocultar fraquezas: se um carro tem poucas prestações, a rota será urbana; se é pouco ágil em curva, a organização te manda pela autoestrada. É até certo ponto lógico, mas te faz desconfiar. Não é estranho que eu teste aquele SUV, que na roda de imprensa insistiram que se destaca por suas capacidades offroad, em uma rota que nunca sai do asfalto?

Mais criticável é que às vezes também há rotas muito curtas que não permitem tirar conclusões sobre consumo, conforto a longo prazo ou comportamento em diferentes situações. Em eventos, eu tive que fazer rotas de 5 quilômetros inteiramente pela cidade, de semáforo em semáforo, que mal serviram para nada. Algo que deve ser reconhecido é que na maioria dos eventos as rotas são sugestões e permitem fazer seu próprio trajeto, desde que você chegue ao destino na hora estabelecida.

6. Lastro em furgões e pickups

Às vezes, em testes de furgões e pickups nos entregam a unidade a avaliar com carga ou lastro na caixa para que a suspensão fique mais assentada. Com peso na parte traseira, a suspensão desce, o rebote se atenua e o veículo transmite uma sensação de estabilidade que, sem carga, pode não existir.

É frequente em apresentações de veículos comerciais que os veículos venham com um pouco de carga para melhorar a experiência ao volante.

Faz sentido porque em veículos desse tipo, circular com carga é a realidade do cliente. Mas, embora seja seu uso mais habitual, também é verdade que o usuário médio também fará percursos sem carga e, por isso, eu acho que também seria útil testar a pickup ou a furgoneta nessas circunstâncias. Uma furgoneta vazia e outra carregada oferecem experiências muito distintas e seria bom poder explicar as duas realidades.

7. É difícil julgar o envelhecimento

As unidades que eu testei costumam ser muito novas, lógico por serem na sua maioria lançamentos muito recentes. É pouco frequente encontrar unidades com mais de um ano ou mais de 15.000 km no odômetro. Isso implica que quase sempre vejo tudo quando está muito novo dificultando a possibilidade de avaliar como o carro envelhece.

Embora a experiência já me permita intuir onde um modelo pode falhar no futuro, não é possível verificar de forma confiável se aparecerão ruídos, se os plásticos aguentam ou se ocorrem desajustes com o passar do tempo. Os testes a curto prazo são úteis, mas incompletos por definição porque não é possível dar um veredicto completo sem poder avaliar a confiabilidade e o envelhecimento.

Testamos todo tipo de veículos, mas muitas vezes não é possível escolher algumas versões, especialmente as de acesso.

8. As versões básicas não existem

Se você quer ver como se comporta a versão mais básica do modelo, boa sorte. Os parques de imprensa das marcas estão cheios de acabamentos topo de gama e os mais vendidos. Salvo raríssimas exceções, as versões de acesso não estão nem se esperam, limitando a informação real para o comprador que só pode se permitir a versão de entrada.

Avaliar apenas as versões altas pode gerar uma imagem distorcida porque uma motorização ou equipamento básico poderia ser percebido com menos refinamento e gerar uma experiência menos positiva. Considero que seria bom poder fazer testes da gama baixa para dar um julgamento mais completo de cada modelo.

9. Mais potência do que deveria

Houve épocas em que nos carros de imprensa eram feitos ajustes para beneficiar as prestações. Ajustes eletrônicos ou substituição de componentes para aumentar o desempenho e, portanto, melhorar a impressão que o jornalista levava. Faz parte do passado e hoje, aparentemente, essa prática não me consta que seja realizada. Mesmo assim, a tentação pode existir.

10. Copilotagens e condução acompanhada

Em algumas apresentações o formato de teste de um veículo não é tal, propõem copilotagens: o carro é conduzido por um engenheiro ou piloto da marca, com o jornalista ao lado. Também pode acontecer que o jornalista vá ao volante, mas com alguém da marca acompanhando-o.

Faz sentido em carros únicos, protótipos ou versões de competição. Às vezes é valioso porque te ensinam os limites, demonstram um comportamento… e também se certificam de que você não vai quebrar nada. Não é mal-intencionado, mas reduz a independência porque essa companhia limita a liberdade do testador e, com sutileza, guia a percepção que recebe.

Quando escrevemos ou gravamos testes, tentamos explicar tudo para que não haja surpresas.

Então, as marcas estão enganando?

Nem sempre. Muitas dessas práticas são estratégias de marketing, outras uma questão de logística ou custos. Logicamente o fabricante tentará mostrar o melhor de seu produto e minha tarefa é garantir que o que te conto se parece com o que você encontrará na concessionária.

Quando o que é apresentado no teste não corresponde, de maneira razoável, ao que o comprador poderá experimentar, há uma falta de transparência que prejudica a confiança do cliente e a credibilidade do jornalista. Isso não é bom para ninguém.

Para os jornalistas do motor, é importante a honestidade, temos que ser um filtro que separa a realidade do marketing. Por isso, em testes e resenhas, tento apontar tudo aquilo que possa distorcer a experiência. Em definitiva, trata-se de explicar de forma clara o que você está vendo e por quê, para ajudar você a tomar a melhor decisão de compra.

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